domingo, 2 de setembro de 2007

Ensaio sobre a pobreza

Não, este post não tem nenhuma relação com o famoso romance de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, ainda mais porque nunca li Saramago. Não sou tão "culto" como muitos pensam. Quero apenas deixar algumas impressões de como a pobreza influencia minha vida.

Nasci pobre, logo, durante toda minha vida, me envolvi com outros pobres. Todos os meus amigos precisam trabalhar para viver. Isso é o maior atestado de pobreza que pode existir.

Na volta de Pequim para Paris, houve um over-booking no meu vôo e por isso viajei de classe executiva da Air France. Diante de tanto luxo, tive um estalo e definitivamente vi que tenho o dom para a riqueza. Mas a vida prega peças. Como diria Chico Buarque:

"Deus é um cara gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da miséria, eu nasci batuqueiro
Eu sou do Rio de Janeiro"

Tudo isso influencia demais no meu dia-a-dia. Me faz sofrer. Toda 2a feira de manhã sou lembrado de meu estado de pobreza por meu despertador que faz questão de me dar um "tapa" antes das 6 da manhã.

Pobre adora fila. Mas eu, rico em espírito, tento evitá-las ao máximo. Faço compras via internet, uso banco virtual, tento não freqüentar lugares muito cheios (como shoppings no final de semana). Procuro ir ao cinema para assistir filmes alternativos porque seu público sempre é reduzido, principalmente em Manaus, e conseqüentemente suas filas também são.

Futebol é o esporte preferido dos pobres. Eu, tentando seguir minha natureza de rico, durante os finais de semana, abro mão da clássica "peladinha", para jogar tênis, esporte de rico. Meu envolvimento com o violento esporte bretão é, na maioria das vezes, puramente de espectador, via satélite, no conforto do meu quarto.

Mas não esqueçam. Sou pobre, então não tenho como fugir da minha realidade. Sou um freqüentador de PAC's (Posto de Atendimento ao Cidadão), uma das maiores concentrações de pobre existentes no planeta. Não porque eu queira. Não tenho escolha. É a única maneira de se pagar IPVA neste estado (a não ser que você tenha alguém que pague para você. Coisa para rico.).

Tenho minhas vacinas todas atualizadas. Entre elas, anti-tetânica, hepatite e febre amarela. Torço para não pegar malária. Tudo doença de pobre.

Nas minhas férias, decido por roteiros para onde meus créditos de programas de milhagem aérea podem me levar. Isso limita minha criatividade turística. Até nos momento de lazer, vida de pobre é dura.

Preciso arrumar uma solução para esses problemas que tanto me afligem. Definitivamente trabalhando não vai ser. Talvez um golpe de sorte venha me salvar. Por enquanto minha sina continua. Ainda não foi dessa vez que eu ganhei na mega-sena...

3 comentários:

Rocha disse...

CADA VEZ MELHOR! PORRA ADOREI, MAIS AMIGOS POBRES FOI O MELHOR!HAHAH ABRAÇO ZE!

Ogro disse...

Desisti dessa de mega-sena. Isso não é um jogo honesto.

Christy disse...

ehhh...
nao sabia que eras um anti social..rsrrsrs

mas eh neh..fazer o que..tb nao ganhei dessa vez na mega sena...
mas amei o ensaio...
bjus