terça-feira, 9 de outubro de 2007

Música, dignidade e morte

A morte dignifica o músico. Afirmo isso por vários motivos. Vou enumerá-los: (1o) a saudade que fica faz com que só lembremos das coisas boas, (2o) a pessoa morta deixa de fazer besteira, (3o) cria-se um mito. É possível mostrar exemplos da dignidade que a morte traz.

John Lennon. Alguém tem dúvida de que se ele estivesse vivo hoje, estaria fazendo um monte de coisa ruim? No final de sua vida, sua arte já não era a mesma. Aliado com sua esposa, a mesma que destruiu os Beatles, suas atitudes eram sem sentido, suas músicas pobres. Morreu, virou mito. Não teve tempo suficiente para estragar o que já havia feito de espetacular na sua carreira.

Outro exemplo inglês é Freddy Mercury. Se estivesse vivo, teria roubado o título de Little Richard e se tornaria a Rainha do Rock. Até aí nenhum problema. Problema seria que, totalmente desvairado, iria virar um Elton John e começaria a escrever músicas em homenagem à Lady Di e outras "celebridades" do mesmo nível.

O que seria Jimi Hendrix? Estaria experimentando tanta coisa na sua guitarra, que, a essa altura, já teria até gravado um disco de música eletrônica. Para nossa sorte, ficou apenas o cara que "inventou" a guitarra.

No Brasil posso citar Cazuza e Renato Russo. O primeiro, um louco transviado, foi um grande poeta, cantor de rock de voz rasgada. Se ainda estivesse entre nós, seria um bêbado drogado tentando aparecer a todo custo, falando coisas já sem sentido. Vivendo do passado. A morte salvou sua história. Já Renato Russo seria um compositor romântico, quase do nível dos bregas atuais. Não veríamos mais discursos políticos e letras de qualidade nas suas composições. A dama de preto o levou embora na hora certa.

E imaginem Raulzito! Ele foi parceiro do Paulo Coelho. Precisa falar mais alguma coisa? Alguém dúvida que ele seria mais um mago? Faria as trilhas sonora para os livros do parceiro. Ainda bem que ele ficou na sociedade alternativa.

Falei apenas dos mortos, agora quero falar daqueles que sobreviveram e estão arruinando tudo que fizeram no passado. Tia Rita Lee cai como uma luva nesta parte do texto. Quanta sorte seria se sua fama ficasse restrita à de vocalista do mutantes? Ou até de líder da banda Tutti-Frutti? Pois é. Apesar de todas as drogas, viagens e etc, ela continua por aí viva, abrindo a boca e falando besteira, gravando discos que nem de perto lembram o auge da sua carreira. Se tivesse uma morte digna por overdose, teria virado a maior cantora do Brasil.

E o Rei? Bons tempos em que ele era Rock 'n Roll. Agora virou cantor de rádio FM popular. Se tivesse morrido, teria se tornado deus.

Posso falar de muitos outros: Caetano, Celso Blues Boy, Stevie Tyler, Axl Rose... Infelizmente todos vivos.

E aí? Alguém quer se candidatar à eternidade?

5 comentários:

Rocha disse...

Bruno, realmente fico sem palavras, voce se supera a cada dia, faz valer cada centavo que seus pais gastaram no pentagono e curso com voce é bonito ver pessoas como voce pena que grande parte dos filhos do Brasil não tem essa oportunidade e nem aproveitam quando a tem, preferem espancar domesticas e colocar fogo em seres humanos, Esse é o meu Brasil!

Ogro disse...

Tirando o Celso Blues Boy, o resto tá valendo. :-)

Feliz Aniversário!!!

Anônimo disse...

Ai Bruno,

Ja pensou em escrever um livro?
Vc viaja p/ varios lugares tem um monte de coisas p/ contar. Reflita sobre isso.

Abs,
Andrea.

Raphael Alves disse...

Cara, muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito genial (se é que a genialidade pode ser quantificada e qualificada) esse post.
ENgraçado que lembrei do Pink Floyd. Além do Syd Barret, nenhum outro morreu, seu último álbum - Division Bell - foi muito bom, ma slonge da genialidade do Dark Side of the Moon e the Wall, mesmo assim não cairam na pieqguice. Talvez porque "se mataram" estacionando no ultimo album, há 13 anos... Parece que foi ontem...
Adorei o Post... Você deveria ser crítico de música... Bem embasado nas idéias, texto bem escrito..por que não?!

Luciano Arruda disse...

Eu adicionaria o Chico Science!!! e um vivo que seria mais sucesso se já estivesse acabado era o U2!!!! No Brasil Chico Buarque, ainda bem que ele se tocou e parou de tocar música estar agora escrevendo livros. Espero que não volte mais. Detalhe.. a morte que eu falo é mais como encerramento de carreira, e nem o Diabo de foice propriamente dito. Por exemplo vemos múmias por aí como Rolling Stones.. Mortos podem insistem em aparecer...