quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Conto Inacabado

E assim terminava mais um dia de trabalho. É verdade que já era tarde, mas só naquele momento ele desligou o computador. Se despediu dos colegas que ainda estavam lá, colocou a mochila nas costas e sumiu pela porta. Estava indo para casa. Apesar disso, não havia muito o que comemorar, afinal a semana não havia acabado, ainda estava em seu uniforme yuppie e ela, longe, demoraria a chegar.

Por causa do avançar da hora, os corredores estavam vazios. O elevador que geralmente demorava para chegar, dessa vez abriu as portas assim que foi chamado. Sem vacilar, tomou aquela cinzenta célula vazia. Apertou o "T" e esperou.

Para sua surpresa, a viagem foi mais rápida que de costume. Num determinado momento, sentiu que caía em queda livre. Só um susto. Instantes depois, o elevador já se encontrava parado e assim a porta se abriu. Só que ao contrário do que acontecia sempre, não viu a recepção... era tudo diferente. Onde estava? Parecia uma caverna. Ficou com a impressão que o térreo, seu destino, tivesse ficado muito mais para cima.

À sua direita escuridão, à esquerda luz de fogo e barulho de comemoração. Apesar da inusitada situação, não titubeou e nem teve dúvida em qual direção seguir. Firmemente foi para a esquerda. Conforme andava e descobria esse novo mundo, via baratas enormes do tamanho de humanos peramblando sem direção. Elas não pareciam interessadas nele e tão pouco ele nelas, por isso continuou seu caminho.

Conforme caminhava em direção ao fogo, os corredores iam se alargando. Andava sempre em direção ao fogo, sem pestanejar. Começava a distingüir pessoas mais à frente. Havia entre elas uma que se destacava, estava mais alto que o restante. Ao aproximar-se mais da multidão, as coisas começavam a ficar mais nítidas. Um negro com cabelo black power e uma fita na cabeçca, usando roupas coloridas e empunhando uma guitarra era o centro daquilo tudo. Não podia acreditar! Era Jimi Hendrix tocando sobre um caldeirão fervilhante.

Nesse momento não lhe restava outra opção a não se juntar à turma e curtir o som. Em pouco tempo se tornou mais um na multidão. Pessoas iam e vinham e o rock comia solto. Que lugar louco pensou com um sorriso no rosto.

Então notou uma figura estranha se aproximando. Debaixo daquele chapéu, se escondia um rosto estranho, em que apenas podia perceber o nariz fino e um pequeno cavanhaque. A figura chegou mais perto, apertou sua mão e disse: "Prazer em te conhecer, espero que adivinhe meu nome".

Aquele persoagem, da mesma forma que chegou, foi embora. Sumiu entre todos. Sozinho novamente, voltou-se para o palco. Foi quando ele, num breve momento de lucidez, percebeu que aquilo não era natural. Eestava morto! E aquilo era o inferno! Engraçado, era exatamente como ele sempre havia imaginado. Um lugar aconchegante, com gente alegre e com o rock ´n roll comendo solto. Nesse instante, ele agradeceu por todos os pecados que o levaram até lá. E relaxou...

Apenas voltou a si quando ouviu a voz do porteiro dizendo: "Boa noite, senhor". A porta principal do prédio se abriu e ele saiu para encarar a fria chuva que castigava a cidade há dias.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sympathy for the devil

Há até pouco tempo, esse nome me remetia apenas à famosa música dos Stones. Depois desta semana, vai me lembrar de algumas coisas a mais. Fui assistir a um documentário de Jean-Luc Godard, que até então eu só conhecia por causa de Eduardo e Mônica, sobre a gravação desse clássico stoniano, do disco Beggar´s Banquet, do ano de 1968.

O filme é bem estranho. Além de mostrar o processo de gravação da música, retrata o movimento dos Panteras Negras e a contra-cultura americana, sem contar a narração de trechos de livros que eu não tenho idéia de quais sejam. O problema que esses fatos não têm nenhuma relação com a música, inspirada num livro russo do início do século XX, chamado O Mestre e a Margarida, muito louco por sinal.

Musicalmente o filme é bom e mostra alguns aspectos que a maioria dos fãs não conhecia. A primeira versão tocada no estúdio é mais próxima do estilo de Bob Dylan, Brian Jones, já em final de carreira, pouco contribui com a composição, Keith Richards compõe a linha de baixo e Charlie Watts, baterista da banda, atrapalha mais do que ajuda. Por vezes, percebe-se a irritação da banda com seus erros. O mesmo baterista, ao gravar os backing vocals da música, mostra um tédio fora do comum.

O resultado final é um filme com altos e baixos, mas muito rico musicalmente. Para quem tiver a oportunidade e gosta de música, é um filme estranho...

Abundância

Uma das melhores coisas de se estar de volta ao Rio é ter inúmeras opções de entretenimento e poder escolher entre elas. Infelizmente em Manaus é justamente o oposto. Não há esse leque de opções. Seja de música, cinema ou qualquer outra coisa.

Não sei se estou exagerando ou apenas tentando fazer o tempo passar mais rápido, mas o fato é que tenho aproveitado bastante esse ponto positivo daqui. Desde que cheguei, já fui a show de rock, blues e até de samba. Cinema nem se fala. Voltei a assistir todos os filmes que eu queria ver e não podia porque simplesmente não são exibidos em Manaus. Para provar que não estou mentindo, procurem por: Os Desafinados, Trovão tropical, A culpa é de Fidel e Sympathy for de Devil em algum cinema da capital amazonense. Ahhh... essa semana ainda vou assistir a Linha de Passe do Walter Salles.

Devo admitir que nem todos são blockbusters, alguns inclusive são bem estranhos, mas é disso que eu gosto e é isso que tenho em abundância aqui.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Snowboarder








Bariloche

Fantástico. Não há outra palavra para se descrever esse portal de entrada da Patagônia. Há muito se ouve falar da cidade, mas seu aspecto puramente turístico me fazia ficar reticente. Filas, multidões, confusão... sim, tem tudo isso, mas vale a pena.

Lugar de beleza rara, com o lago Nahuel Huapi e suas cores mutantes (do transparente ao esmeralda, passando pelo turquesa conforme o sol vai girando no céu) aos seus pés e cercada pelos "cerros" de cumes brancos, o cenário é um dos mais belos do mundo.


Atrações não faltam. As clássicas estações de esqui, o circuito dos lagos, as fábricas de chocolates, as cidades vizinhas compõem um roteiro imperdível.

Opções de hospedagem borbulham por toda região. Deixamos para fazer as reservas em cima da hora (1 mês antes) e não encontramos lugares disponíveis perto do centro cívico. Ficamos um pouco afastados mas bem acomodados nos Bangalôs Rauelo, onde Heloísa e Raul, dois simpáticos velhinhos, nos trataram como se fôssemos de casa.

O ponto fraco do local é o transporte para o Cerro Catedral. No nosso caso, foi preciso pegar dois ônibus para chegar até a mais famosa estação de esqui de Bariloche, e o segundo passa tão lotado que nos forçou a pedir carona (no segundo dia fomos de táxi).

O lago é rodeado de cidades menores. Alugamos um carro e fomos a Villa La Angostura num dia. No outro, quando iríamos conhecer outros "cerros", a neve nos impediu de sair da cidade. O pouco que tentamos, derrapamos tanto que em certo ponto, onde já havia carros fora da pista, precisamos da ajuda da polícia para fazer a volta e rumar para a cabana novamente.

No fim, foi uma semana para ficar na mente por muito tempo. Vou tentar passar algumas dessas sensações com as fotos abaixo.







Um raro registro de um condor feito pela Bruna


























Mais uma crise aérea

Todos nos fizeram essa pergunta. Sim, pegamos a crise aérea na Argentina. Estávamos no Aeroparque quando tudo explodiu. O que nos restou foi ter paciência e contar com a sorte para chegar em Bariloche. E foi isso que aconteceu. Nosso vôo sofreu um atraso de 7 horas. Parece ruim, mas poderia ser pior. Os vôos que sairiam imediatamente antes e depois do nosso (15 minutos de diferença) simplesmente não decolaram.

Bom humor e paciência na espera

Impressões Porteñas

Buenos Aires me surpreendeu. Talvez seja a cidade mais européia da América do Sul (escrevo isso sem conhecer Santiago). Em geral muito segura, por vezes parece Madrid, com suas praças e monumentos, por vezes lembra Londres, com sua atmosfera de vanguarda e suas lojas e moda de bom gosto.

O povo talvez saiba disso e se orgulha bastante. Mas não nos deixemos enganar, ainda se trata da capital de um país em crise, com economia arrasada. Isso é possível perceber através da má conservação de alguns lugares importantes, da qualidade do transporte público, da limpeza das ruas.

Brasileiros por toda a parte. Com a moeda argentina fraca, legiões de conterrâneos são vistas perambulando e comprando por toda a parte. A maioria do vendedores arranha um português.

A cidade estava cheia. não conseguimos fazer reservas de hotel no centro. Sorte nossa, encontramos um bom lugar (Livian Guest House)e ficamos mais afastados dos turistas, o que nos permitiu conhecer um pouco melhor Buenos Aires.

Por ficarmos afastados dos turistas em geral, acabamos mergulhando mais no dia-a-dia da cidade, com isso constatamos algumas coisas interessantes. Nos bairros residenciais, por exemplo, se vê diariamente profissionais que passeam com cães de moradores. Eles passam com 8, 9, 10 cachorros fazendo uma bangunça e uma sujeira muito grande, deixando as calçacas imundas e praticamente impedindo que se ande por elas sem que se pise em "alguma coisa" deixada pelos cachorros.

De resto fica a sensação que é um lugar para ser visitado e curtido. De preferência fugindo das furadas turísticas e tentando viver mais o que o porteño vive.